Com todo o talento que fomos vendo nos clubes de teatro e jornais das escolas que visitámos nestes dois anos, fazia mais do que sentido que desafiássemos os alunos a escreverem os seus poemas. Assim, o Projecto VOZ está a promover um concurso de poesia que se destina aos alunos das escolas que nos receberam. Participar é muito simples: basta juntar ao poema original esta ficha de inscrição, cópia do bilhete de identidade ou cartão de cidadão e enviar para formacao@producoesficticias.pt. Todas as participações recebidas vão poder ser lidas neste blog e as três melhores recebem um prémio.
O regulamento pode ser consultado aqui. Data limite para envio de textos: 16 de Dezembro de 2011.
da Caravana Visão, na Secundária de Santo Tirso. Muito obrigada à jornalista Luísa Oliveira e ao fotógrafo Marcos Borga.
A nossa viagem começou com um boa dose de poemas. Fomos a uma sessão de VOZ, em Santo Tirso, um recital pensado pelas Produções Fictícias para estudantes do secundário.
O ator João Lagarto, 56 anos, levanta-se, larga a sua pose blasé e agarra no microfone. "Poesia é um espaço de liberdade." Tem casa cheia. A plateia - alunos do secundário da escola Tomaz Pelayo, em Santo Tirso - espera pelas suas palavras. "Preciso de voluntários", arrisca logo no arranque. Tiago Pereira, 16 anos, avança, sem medos. Lê o poema que o ator lhe passa para a mão, sem gaguejar. Estamos numa sessão de Voz, um recital de poesia pensado pelas Produções Fictícias - já foi programa de televisão e agora vende-se um resumo em DVD - para cativar alunos para este tipo de literatura. "Os textos devem ser percebidos pelo coração e não apenas com a cabeça", ensina João Lagarto.
O discurso tem vindo a ser afinado à medida que passa por diversas escolas do País. "Agora vamos ouvir o mesmo poema dito por David Fonseca". Ouvem-se joviais suspiros femininos na assistência... Na parede branca aparece a cara do vocalista dos Silence 4. "Amar é uma eterna inocência", são palavras de Alberto Caeiro, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, há de explicar o ator. Assim se passa a hora seguinte, entre poetas, poemas e poesia. Ora ditos ao vivo, ora projetados, nas vozes de pessoas tão diferentes como João Reis ou Inês Castelo Branco. Saem três meninas do auditório. João Lagarto força o silêncio, para mostrar desagrado. Nem por isso as entradas e saídas acabam. Soltam-se algumas palavras mais indecorosas quando Bocage vem à baila. E a mostra termina com Raul Solnado a dizer Fernando Pessoa, em forma de Liberdade. Ouvem-se palmas. E o professor de português, António de Sousa, ergue-se: "Tem mais um minuto?" João Lagarto cede o palco a uma espécie de improviso de alguns estudantes. Tiago volta ao palco, imponente, soltando palavras de António Gedeão. Seguem-se meia dúzia de outros alunos.
De repente, a sessão transforma-se numa espécie de Ídolos, versão poesia. No final, depois de Impressão Digital (outra vez Gedeão) na voz do professor entusiasta, há direito a autógrafos e fotografias com a estrela da tarde. João Lagarto apressa-se a sair. Ainda o esperam mais de 300 quilómetros até à capital. Acede a espreitar a nossa autocaravana, enquanto fuma um cigarro. Diz-nos que se sente apenas "uma vírgula, ou quanto muito um ponto de exclamação. O centro disto são os poemas projetados". Quase que apostamos que os alunos que acabaram de o ouvir não pensam assim.
tivemos um grupo de alunos muito empenhado em ajudar-nos a preparar os meios técnicos para o nosso espectáculo.
Connosco, esteve também uma equipa da Fundação EDP, a grande mecenas deste projecto.
Imagem do vídeo-poema "Portugal" de Jorge de Sousa Braga, dito por Miguel Borges
Imagem do vídeo-poema "Liberdade", de Fernando Pessoa, dito por Raúl Solnado
e o nosso carro a serpentear pelo verde a perder de vista. Logo a seguir, Alijó, onde, tal como em Murça, o Voz ao Vivo foi recebido com muitos aplausos dos alunos.
(Fotos cedidas por João Paulo Pinto)
Uma agenda cheia é o que promete esta primeira semana de recitais do Voz ao Vivo:
Amanhã, dia 02, às 10h30, Macedo de Cavaleiros e, às 16h00, Mogadouro.
Dia 03, às 10h30, estaremos em Murça e seguimos depois para Alijó, onde o espectáculo está maracado para as 15h00.
Na quarta, dia 04, às 14h30, visitamos Mondim de Basto.
Finalmente, no dia 05, saltamos até à Secundária Mirandela (10h30) e a última paragem vai ser, às 16h00, em Carrazeda de Ansiães.
Hoje, feriado, estamos a apreciar a paisagem e os ares do Solar de Chacim.
Depois de 16 escolas no ano passado, eis que estamos de regresso, desta vez vez para mais 20 espectáculos pelas várias secundárias nacionais.
Para já, vamos até Bragança, com o João Lagarto.
Apresentação do recital Voz ao Vivo, com a actriz Cristina Carvalhal, na Escola Secundária do Castêlo da Maia - 21 de Novembro
|Fotos cedidas pela professora Maria Clara do Vale|
A história e as histórias do VOZ, por Nuno Artur Silva e Maria João Freitas, aqui.
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer
Ruy Belo. Música: EELS | Theme from Blinking Lights
Algures em Vale Pereiro - Acreditem: o GPS tem sempre razão.
Estamos no primeiro dia desta série de apresentações no distrito de Bragança, com a actriz Joana Seixas, e o saldo é já positivo: o professor Francisco José Lopes, representante do Agrupamento de Escolas de Alfândega da Fé, convida-nos a voltar cá mais uma vez. O objectivo é chegar a um maior número de pessoas, incluindo pais e todos os professores.
Obrigada por nos receberem e esperamos ver-vos em breve.
Amanhã, nova etapa: Miranda do Douro.
Detalhe importantíssimo de que nos devemos assegurar, sempre que contratamos um rent-a-car para estes projectos: o sítio onde fica a alavanca que abre o depósito do carro.
De 21 a 23 de Setembro, o VOZ ao VIVO vai estar nas escolas secundárias do distrito de Bragança. Em três dias faremos cinco apresentações deste recital, com a actriz Joana Seixas. A viagem há-de ser contada aqui, com mais ou menos palavras, algumas fotografias e muito entusiasmo pela partilha deste projecto.
Álvaro de Campos na Voz de Rui Morisson
(...)
O Alexandre andou pela publicidade e nela pôs também o seu fluxo criador. Infelizmente, o público não estava ainda preparado para algumas das suas audácias como aquela do lançamento do metropolitano que ele propunha, "Vá de Metro, Satanaz". O "Há mar e mar, há ir e voltar" tinha uma outra frase que não foi usada, mas que eu acho melhor: "Passe um Verão desafogado".
António Alçada Baptista, A Pesca à Linha - Algumas Memórias, Editorial Presença, 1998, p. 126
Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada
Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor
Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver
Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual
Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal
Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser
Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal
Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti
Alexandre O'Neill. Música: AIR | Alone in Kyoto
A FUNDAÇÃO EDP e as PRODUÇÕES FICTÍCIAS, num protocolo conjunto, têm um projecto dedicado à poesia em Língua Portuguesa que contempla um recital de poesia ao vivo nas escolas secundárias, bem como a edição de um DVD.
Baseando-se num conceito já exibido na RTP1, em que diversas personalidades da música, do teatro e da televisão dizem poemas de Fernando Pessoa, Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner Andresen, entre outros, o PROJECTO VOZ propõe-se fazer uma abordagem contemporânea da poesia, nas suas múltiplas variantes, recorrendo não só a excertos de obras poéticas, mas também aos clips gravados para a emissão televisiva. Cada sessão deste recital tem a duração de 60 minutos e tentará, sempre que possível, ter um espaço de interacção e diálogo com os alunos.
Este Projecto tem o objectivo de estimular e desenvolver o conhecimento e gosto pela poesia, pelo que a FUNDAÇÃO EDP e as PRODUÇÕES FICTÍCIAS lançaram, às muitas escolas secundárias nacionais, o desafio de nos receberem e de connosco participarem nesta ideia. Depois da nossa presença, será entregue à biblioteca da escola o DVD contendo todos os poemas do programa televisivo e haverá, ainda, a hipótese dos alunos participarem num concurso de escrita de poesia, com prémios atribuídos aos melhores e exibição neste blog.